“Você só se torna um mergulhador de penhasco se gosta de ser observado”, diz Morgane Herculano


Seu pulso está acelerado, 160 batimentos por minuto. Seus olhos estão fechados. Morgane Herculano está à beira de um precipício. Ela está prestes a mergulhar 20 metros abaixo da costa de Porto Flavia, na Sardenha. "Estou praticamente pulando de um prédio de sete andares. O medo é normal", diz ela.
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Ela reflete sobre seus três valores: "Determinação, paixão e realismo" – e então impulsiona, gira no ar a 75 km/h e pousa no oceano alguns segundos depois. Este salto lhe rendeu o quinto lugar no Campeonato Mundial de Saltos Ornamentais.
Herculano, a jovem genebrina de 25 anos, saltou para a elite mundial no final de agosto, na Sardenha. Mas o esporte ousado é apenas uma parte de sua vida. Ela também arrecadou US$ 250.000 em patrocínios, estudou na prestigiada Universidade Harvard e trabalhou na Casa Branca. Ela compartilha essa vida com mais de 300.000 seguidores nas redes sociais.
A mistura de estética, espetáculo e acrobacia a fascinaHerculano cresceu em Genebra com quatro irmãos. O esporte era sua válvula de escape; ela jogava tênis, futebol e andava de skate. "Meus pais sempre me disseram que era bom se exercitar", diz ela. Quando criança, ela assistia aos mergulhadores da Genève Natation na piscina ao ar livre. Ela era fascinada pela mistura de estética, espetáculo e acrobacia. Herculano começou a mergulhar, mas acreditava que lhe faltava talento.
Quando salta, sente como se todos a observassem e tudo parasse. "Gostava quando me aplaudiam." Herculano melhora cada vez mais, entra para a seleção nacional aos 12 anos e compete em torneios.
Alguns em seu clube até acreditam que ela poderia competir nas Olimpíadas. Herculano diz, no entanto: "Não sou uma sonhadora". Ela prefere encarar uma competição de cada vez. Ela encara a escola mais como uma tarefa. Suas notas são tão boas, no entanto, que ela pode tirar um semestre de folga do ensino médio. "Depois, fui para o Brasil treinar", diz ela.
Primeira vez que mergulhamos em penhascos fere o cóccix e o egoSeu primeiro salto de penhasco aconteceu sem preparação. Foi "horrível", diz ela. Aos 17 anos, ela foi com amigos para o Vale Maggia, para o desfiladeiro de Ponte Brolla, a meca suíça do mergulho de penhasco. Ela queria mesmo era assistir aos amigos saltando, mas: "Se eu for para lá, não vou ficar parada como uma turista", diz ela.
Ela salta de oito, doze e quinze metros – aterrissando em segurança no Rio Maggia. "Mas aos dezenove metros, eu estava totalmente estressada e quase chorei de medo", diz Herculano. Mesmo assim, ela salta, aterrissando de bunda. Ela sente que não está preparada para tais alturas. Depois disso, perde o interesse em saltar de penhascos. "Meu ego foi mais ferido do que meu cóccix", diz ela.
Depois de terminar o ensino médio, ela se candidatou a universidades no exterior para estudar. Ela diz que conciliar esportes competitivos e estudos às vezes é difícil na Suíça. Ela enviou cerca de 30 candidaturas, incluindo uma para Harvard — por que não? "Uma nota 5,5 em inglês não significa necessariamente que eu possa me tornar uma aluna de Harvard", pensou. Mas foi exatamente isso que impressionou os responsáveis. Herculano fala cinco idiomas. Harvard a aceitou, e ela estudou economia.
US$ 250.000 para o sonho de HarvardNo entanto, há um obstáculo: Herculano precisa arrecadar US$ 250.000 para as mensalidades. Ela está procurando patrocinadores e entrando em contato com fundações e instituições. Ela agradece qualquer quantia, mas: "Foi muito estressante; muitas pessoas me recusaram ou simplesmente me deram 1.500 francos", diz Herculano. Então, é um longo caminho. Mesmo assim, ela consegue arrecadar o dinheiro.
Mas as coisas não estão ficando mais fáceis em Harvard. Seu professor a chama para sua sala na primeira semana. Ela esqueceu a lição de casa. A matéria é mais difícil do que ela esperava e ela está tendo dificuldades para se conectar socialmente. "Houve momentos em que eu odiei", diz ela. Mas ela nunca pensa em desistir. Ela vê estudar nesta universidade como um privilégio. As coisas estão indo melhor em termos atléticos. Ela representa Harvard em competições e conquista o título da Ivy League no trampolim de um metro em 2020. No final, apesar dos tempos difíceis, ela olha para trás com muito otimismo para o seu tempo na universidade de elite.
Pular de penhasco se torna amor à segunda vistaApós se formar em 2022, ela trabalhará como assistente de pesquisa na Harvard Business School, escrevendo estudos de caso. O trabalho abrirá oportunidades inimagináveis para ela: "Já estive na Casa Branca duas vezes — quem faz isso logo depois de sair da faculdade?"
Fora do trabalho, ela continuou mergulhando, do trampolim, até assistir a um documentário sobre o salto de penhasco na Suíça. Herculano ficou surpresa – nenhuma mulher apareceu no documentário. Isso a motivou. Ela não pensou na lesão que sofreu aos 17 anos: "Não foi por falta de habilidade, mas sim por falta de preparação", diz ela.
Herculano viaja para a Flórida com dois colegas e treina intensamente salto de penhasco, a partir de 20 metros. Ela participa de uma série de competições e se classifica para o Campeonato Mundial de 2023 três meses depois. Depois de dez anos e 24 campeonatos suíços, ela está farta de mergulhar. O salto de penhasco traz de volta a emoção. Ela se sente sobrecarregada pela velocidade e pelo risco – um erro, e tudo pode acabar mal. Herculano às vezes tem pesadelos com mergulho: "Não consigo me livrar do medo; só posso aprender a lidar com ele."
Herculano competirá em seu primeiro ano completo de competição em 2024. Ela recebe um wildcard para o Red Bull Cliff Diving World Series. A fabricante de bebidas profissionalizou o mergulho de penhasco em 2009. Os melhores mergulhadores agora realizam seus mergulhos ousados em todo o mundo. Mergulhadoras também participam desde 2014. Herculano é a primeira mulher suíça a fazê-lo. No final do ano, ela será homenageada como "Mergulhadora Europeia do Ano".
As mídias sociais são um trabalho para ela, não uma paixãoFinanciamento é difícil para uma profissional em um esporte marginal. "Vi a oportunidade de obter mais publicidade", diz ela. Isso ajuda com patrocínios. Assim, ela se torna mais ativa nas redes sociais. Morgane Herculano se transforma em um caso de negócios. Em pouco tempo, mais de 300.000 pessoas a seguem em vários canais.
"As redes sociais são principalmente um trabalho; o salto é a diversão", diz ela. Ela não gosta particularmente dos aspectos criativos, tendo que postar constantemente e entender o algoritmo. Ela recebe muitos comentários – a maioria positivos – mas também insultos e "comentários sem filtro", como ela mesma diz. Mas isso não afeta sua autoconfiança. "Eu fico na frente de milhares de pessoas em um minimaiô. Timidez e salto de penhasco não combinam", diz ela. É por isso que ela dá às suas amigas as melhores dicas de paquera.
Herculano está de volta a Boston, mergulhadora profissional de penhascos e influenciadora. Ela também está ajudando a criar uma nova série de mergulho, trabalhando em um projeto de fotografia e dando palestras corporativas. "Confio que a Morgane do futuro encontrará o caminho certo para mim", diz ela. Ela está acostumada a se lançar no desconhecido.
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